Você já deve ter se deparado em algum momento de sua vida com situações onde era necessário se fazer uma escolha. Seja na hora de decidir entre aparelhos de celular ou na hora de escolher um lugar para onde você vai viajar nas próximas férias, cada vez que uma decisão como essa é tomada, estamos abrindo mão de vários outros cenários e alternativas. O processo de fazer escolhas é necessário para que possamos evoluir, e, no mundo do empreendedorismo, ele é ainda mais relevante, porque dita, muitas vezes, onde vamos chegar como empreendedores.
Quando falamos de construir modelos de negócios, fazemos escolhas iniciais em relação ao valor que queremos gerar e como vamos fazer isso, a como e para quem desejamos entregar esse valor e como vamos capturar valor a partir dessa transação. Na primeira mentoria coletiva do InovAtiva Brasil, discutimos um pouco sobre isso, e os acelerados do ciclo 2019.1 puderam fazer várias perguntas e entender mais sobre como desenvolver essas estratégias. Vamos discutir sobre o tema por aqui também!
Que valor queremos gerar para nosso público?
A discussão central do modelo de negócios de qualquer startup diz respeito ao valor que ela gera. Valor é tudo aquilo que é percebido como benefício pelo consumidor ao ter contato com um produto ou serviço. O status de se ter um iphone ou a flexibilidade em se ter um Android deixam claro que essa discussão vai muito além do produto em si. Afinal, a grosso modo, os dois são aparelhos móveis de telefonia e internet. O que os diferencia está muito mais atrelado ao que percebemos em relação a cada produto do que qualquer outra coisa.
Como vamos gerar esse valor?
A visão interna de como gerar o valor desejado é crucial para o sucesso de qualquer projeto. Seja pela discussão dos principais processos do negócio ou dos recursos ou parceiros que viabilizam essa geração de valor, entender quais são esses pontos críticos é fundamental para que o valor que se quer entregar não seja apenas uma promessa. Produtos e serviços duráveis e perenes são aqueles que cumprem a promessa de valor que fazem. Se a Mercedes não entregasse uma experiência premium em todos os seus produtos, provavelmente fracassaria no mercado.
Como e para quem desejamos entregar esse valor gerado?
A entrega de valor está pautada na definição dos segmentos de clientes que temos, como eles se comportam e o que é relevante para eles como consumidores. Além disso, é preciso definir quais as melhores formas de nos relacionarmos com nossos clientes para construímos uma marca forte e quais os melhores mecanismos de venda de nossos produtos ou serviços.
Como capturar valor?
Por fim, entra o debate de quanto essa operação custa e como vamos ganhar dinheiro com ela. A relação de custos e receitas é fundamental para entendermos se o projeto para de pé. Afinal, não podemos, em hipótese nenhuma, sermos românticos a ponto de ignorar que, sem dinheiro, o negócio não existe, já que toda empresa visa o lucro ou sua sustentabilidade financeira.
Note que, dentro desses quatro pontos citados acima, estamos falando, essencialmente, em fazer escolhas. E é fundamental que elas sejam feitas. Em muitos casos, empreendedores se colocam em cheque na hora de fazer essas escolhas porque sentem que estão afunilando demais o seu range de oportunidades. Fazer escolhas dentro de startups e de novos negócios é fundamental porque dá foco a operação.
O maior desafio de qualquer startup que está em sua fase inicial, é a capacidade de realizar testes, aprender rápido e, se necessário, mudar seu percurso de forma que ela se aproxime cada vez mais do sucesso. Fazer escolhas certeiras e focadas se torna uma habilidade fundamental nesse contexto, visto que fica mais fácil escolher que hipóteses precisam ser validadas primeiro e como isso deve ser feito.
Ainda falando sobre escolhas, mas, agora, olhando para o futuro e para os desafios de crescimento de uma startup, chegamos na discussão da estratégia do negócio. Fala-se muito no mercado tradicional do famoso planejamento estratégico, que envolve análises macro e micro-ambientais, análises de negócio e financeiras, além da própria operação, de mercado, entre várias outros possíveis estudos que suportam os processos decisórios de grandes empresas. Esses negócios de grande porte fazem esse esforço porque tomam decisões de longo prazo, de planos que vigoram, em média por pelo menos 05 anos dentro dessas empresas.
É utópico pensar que startups e pequenos negócios conseguem trabalhar com planos de 05 anos. Muitas não conseguem ter visibilidade do que vai acontecer nem mesmo nos próximos 06 meses. Por isso, é impossível pensar em um plano estratégico robusto e mega estruturado como os de grandes empresas.
Quando falamos em estratégias de pequenos negócios, falamos de definir alguns objetivos táticos claros como uma meta comercial definida, o índice de satisfação da sua base ativa de clientes, a taxa de reutilização ou recompra dentro de um aplicativo. São metas relevantes e de curto prazo que te ajudam a validar seus principais objetivos momentâneos, visto que ainda estamos falando de validação de hipóteses dentro de uma nova empresa.
Um livro muito legal que fala um pouco sobre essa questão é o “Must Win Battles“. Ele fala sobre como um planejamento estratégico robusto pode ser nocivo à novos projetos e como pensar em estratégia de um jeito mais simples e direto. Basicamente, o autor recomenda que as empresas trabalhem com batalhas claras e orientadas a resultados por ciclos menores de tempo, como 6 meses ou um ano. Além disso, ele limita a questão das batalhas ao máximo possível, com o máximo de 05 batalhas por ciclo. Afinal de contas, quem quer tudo, acaba não tendo nada. Novamente, a questão do foco se torna fundamental na perspectiva do empreendedor.
Por fim, é importante dar nomes aos desafios. Cada batalha precisa ter um dono. Ele será responsável por gerenciar os trabalhos para que aquela batalha seja vencida e, principalmente, prestar contas à gestão do negócio em relação a como está o seu andamento ao longo do tempo. Esse aprendizado constante é importante porque, diferentemente de negócios de grande porte, startups podem ter mudanças repentinas de estratégia caso os resultados não sejam satisfatórios na medida em que o tempo passa. O aprendizado precisa ser rápido, e a capacidade de mudar também.
Nas duas discussões, a capacidade de se fazer boas escolhas é o que vai fazer uma startup ir mais longe que a outra. A questão aqui não é, necessariamente, acertar nas primeiras escolhas feitas quando um projeto é criado, mas na habilidade de fazer escolhas de forma constante com base no aprendizado e manter o foco sobre elas para avaliar seu desempenho e realizar as mudanças necessárias quando o resultado não vem. Já parou para pensar que ter momentos específicos para se discutir contextos e fazer escolhas em equipe pode ser uma das atividades mais importantes de sua startup?